Literacy é mais do que decifrar palavras. É entender o mundo, questioná-lo, interpretá-lo. Em 8 de setembro, celebramos o Dia Mundial da Alfabetização, uma data que convida escolas, educadores e famílias a refletirem sobre o verdadeiro papel da leitura na formação humana. 

Para muitos alunos, no entanto, essa experiência ainda é limitada por currículos engessados, práticas desmotivadoras ou a distância entre o idioma aprendido e a língua falada em casa.

Imagine uma criança apaixonada por histórias, mas que nunca viu um personagem que fala como ela. Ou que só encontra livros em um idioma que ela mal domina. A alfabetização perde sentido quando não é ponte, quando não é acolhimento. 

E é nesse ponto que o uso de histórias bilíngues pode resgatar o encantamento pela leitura, promovendo não só o desenvolvimento da literacy, mas também o pertencimento cultural e a valorização da diversidade.

Como histórias bilíngues fortalecem a literacy?

Ler um clássico da literatura em duas línguas, por exemplo, inglês e português, não é apenas uma forma de reforçar vocabulário. Afinal, é uma oportunidade de ampliar a visão de mundo e estimular a aprendizagem ativa. 

Histórias bilíngues favorecem a compreensão do texto, ajudam na pronúncia, interpretação crítica e, principalmente, desenvolvem a autonomia dos estudantes. 

Ao verem a mesma narrativa em dois idiomas, eles constroem pontes cognitivas que fortalecem a literacy de maneira lúdica e eficiente.

A língua materna pode conviver com a aprendida?

Pode e deve, um dos grandes mitos na educação bilíngue é que aprender um novo idioma exige “abandonar” o primeiro. 

Na verdade, a língua materna é um alicerce. Ao integrá-la às atividades de leitura, a escola não só respeita a identidade do aluno, como também facilita a aquisição da nova linguagem. 

Em vez de traduzir o mundo, a criança passa a navegá-lo em mais de uma direção, sem perder sua raiz.

Quais clássicos bilíngues podem ser usados em sala de aula?

Histórias como The Little Prince (O Pequeno Príncipe), Cinderella (Cinderela), Jack and the Beanstalk (João e o Pé de Feijão) ou versões adaptadas de Macunaíma em português e inglês são excelentes pontos de partida. 

Além disso, há editoras que já produzem materiais bilíngues voltados para diferentes faixas etárias e níveis de alfabetização. 

Desse modo, o importante é escolher textos acessíveis, com temas envolventes e que incentivem o diálogo, dentro e fora da sala de aula.

Como promover uma leitura crítica desde cedo?

Alfabetizar é também ensinar a pensar. A literacy vai além do domínio técnico da língua. Afinal, envolve a capacidade de analisar, comparar, refletir e até mesmo discordar. 

Desse modo, ao trabalhar com textos bilíngues, o educador pode propor comparações entre versões, discutir as diferenças culturais nas narrativas e incentivar que as crianças criem suas próprias histórias. 

Essa prática desenvolve o pensamento crítico, a criatividade e o respeito às múltiplas interpretações do mundo.

Como tornar esse processo acessível a todos?

É fundamental democratizar o acesso a materiais bilíngues e formar professores preparados para conduzir essas leituras. 

Além disso, é preciso considerar alunos com diferentes necessidades, como estudantes surdos. 

Integrar a Libras ao processo de alfabetização bilíngue é mais do que uma escolha pedagógica. Ou seja, é um compromisso com a inclusão. 

Por isso, a literacy deve ser uma experiência coletiva, afetiva e acessível a todos, sem exceção.

Qual é o papel da escola na formação de leitores bilíngues?

A escola é, muitas vezes, o primeiro lugar onde uma criança tem contato com diferentes idiomas. 

Quando ela oferece um ambiente de acolhimento, com práticas consistentes e histórias que falam com o aluno e não apenas para ele, transforma a leitura em um ato de liberdade. 

Ao valorizar a literacy em sua dimensão bilíngue e crítica, a escola prepara cidadãos para um mundo mais complexo, diverso e globalizado.